A noite sem estrelas produzia ardor em mim. O único ponto de luz era ele. Ali, rente a um carvalho enorme, flanqueando uma roseira vermelha esperava ele. Estava distante. De distância eu pude notar. Havia impaciência? Talvez. Por isso engoli meu orgulho ferino, em morosidade, aproximei.
 - O que você quer? Cruzei os braços. Um súbito vento gélido cortou meu malar. Arrepios relevantes trituraram minha pele. Enganei a mim mesma a tragar a respiração  em descompasso.
- Que me escute um segundo.
Lúcio, de voz piega, misturada ao olhar misterioso e viril   amarelo como gato, apreendia qualquer ser vivente. As vezes, sua iris transmudava rapidamente a um vermelho sinistro, mas eu acho que minha imaginação era bem fértil.
- Novamente aquela estória tola?
- Não. contrastou ele do modo que sua estatura se perdia na imensidão da noite escura.
- Você tem que partir de imediato.
- Que?!
- Eles vão atacar essa noite. E se me dê um segundo lhe direi tudo o que se passa contigo.
O fulgor cobriu meus olhos. De fulgor sem estar quente e nem tão pouco morno, soergui a frieza como o ar por meras palavras.
 - Eles são meus amigos. Como pôde?
- Confie em mim. Venha vamos . - Lúcio puxou meu braço para o portão de ferro do meu jardim.
Uma explosão. Estanquei com o braço preso ao de Lúcio. A boca entreaberta para algo inevitável e sem sentido.
   Minhas pernas gemiam em chumbo. Mas eu instiguei a elas a ir até os destroços da minha casa.
   Minha casa. Minha vida. Haviam detonado em combustão de cinzas a salpicar ao longe.
    Lúcio, mas ligeiro, me ancorou até o infinito do obscuro.
    O que estava acontecendo? Sem notar, lágrimas toscas regiam em meu rosto quadrado.
     - Eu necessito saber de tudo. E o que está acontecendo comigo.
     - Sim. Lhe narrarei tudo, Roberta.


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